Se você faz muitas
tarefas ao mesmo tempo e está sempre lutando contra o relógio, sem tempo para
nada, você pode estar a sofrer da Síndrome da Pressa.
Segundo pesquisa do International Stress Management Association do
Brasil (ISMA-BR), associação internacional com o objetivo de prevenir e tratar
o stress, 30% dos profissionais sofrem com a doença da pressa. Cerca de
70% dos brasileiros economicamente ativos sofrem com o estresse mal
administrado.
A ISMA-BR entrevistou mil profissionais brasileiros (homens e mulheres),
de 25 a 65 anos, ativos no mercado de trabalho para detectar as consequências
de se manter um estilo de vida excessivamente acelerado, conhecido como hurry
sickness, ou doença da pressa. 30% das pessoas entrevistadas sofriam da doença
da pressa, sendo que 8% já diminuíram o ritmo e 13% querem fazê-lo.
Pessoas que ficam tamborilando os dedos impacientemente enquanto esperam
que o micro-ondas apite ou que suspiram quando o computador inicia podem estar a
sofrer desta síndrome do mundo moderno.
Um estudo semelhante desenvolvido na Inglaterra avaliou 1113 adultos e
evidenciou que 65% dos voluntários eram ocupados demais para conseguir uma hora
completa para o almoço e que 52% prefeririam dormir uma hora a mais a noite do
que fazer sexo com seus parceiros.
Um certo senso de urgência é um grande motivador para finalizar o
trabalho o mais rápido possível. Pessoas bem sucedidas são mais provavelmente
utilizadoras de um senso de urgência para conseguir fazer o trabalho fluir
melhor. Um estado fluido é um estado mental “ótimo”, no qual o indivíduo está
mais apto a completar tarefas de alto valor continuadamente, com altos níveis
de competência. Assim, algum estresse é desejável para se desenvolver a sensação
de urgência. Esta sensação é diferente da pressa na qual o indivíduo desenvolve
conceitos irrealistas de tempo e coloca-se em situações de demanda irrealista,
resultando em estresse contínuo e extremo.
Quando o indivíduo desenvolve a síndrome da pressa, a quantidade, ao
invés da qualidade das tarefas é priorizada e isso afeta a vida profissional
levando a erros. A vida social passa a ser negligenciada. Pessoas que sofrem da
síndrome tendem a realizar diversas tarefas ao mesmo tempo (comer um sanduiche
correndo enquanto fala ao telefone e digita números no computador, por exemplo)
e não conseguem, na verdade, desempenhar nenhuma delas adequadamente.
A síndrome da pressa é velha conhecida da medicina e da psicologia de
aviação, sendo causa do maior acidente do mundo, nos anos 70. O acidente em
Tenerife, nas ilhas Canárias, foi a colisão de dois Boeings 747 lotados (KLM e
PanAm). Após investigação detalhada averiguou-se que a principal causa do
acidente foi erro humano: carga horária excessiva, estados físicos (cansaço) e
motivacionais (os pilotos do Boeing 747 da KLM perderiam o bonus se
atrasassem), um atraso devido a acidente prévio e condições climáticas que
estavam progressivamente deteriorando deixaram os pilotos ansiosos e com pressa
de decolar. Com medo de maiores atrasos, os pilotos da KLM não cumpriram o take off checklist adequadamente e
tentaram decolar sem saber que havia outro Boeing 747 na pista (PanAm). A
colisão resultante causou o maior desastre da aviação em todos os tempos com a
morte de 512 pessoas (todos os passageiros do jumbo KLM faleceram no acidente).
Recentemente mais dois desastres aéreos (um no sul dos EUA e outro em Nova
York) também foram atribuídos a Hurry up syndrome.
Profissionais de alto desempenho são os que mais podem sofrer com a
síndrome e suas consequências. Ninguém gostaria de ser operado por um médico
com síndrome da pressa, que devido ao estado de estresse e a alta carga de
trabalho pode negligenciar passos importantes de uma cirurgia. Da mesma forma,
um contador que tem trabalhado exautivamente pode cometer graves erros e
comprometer o balanço de uma empresa.
Entenda o estresse
O estresse é parte da vida diária. Todas as pessoas o sentem em algum
momento de suas vidas. O problema não é se as pessoas estão ou não estressadas,
mas sim quanto estresse elas são capazes de tolerar. O estresse requer manejo,
antes que tenha muitos efeitos negativos em nossa vida. A questão não é “Como
eu me livro do estresse?” Mas “Como posso manter meu estresse em níveis
aceitáveis?” ou “Como posso reduzir o impacto do estresse que vivencio?”
O estresse passo a passo
A reação das pessoas ao estresse forma um padrão previsível, uma reação
normal de resposta a ameaças percebidas que consiste em:
·
Aumento da frequência cardíaca
·
Aumento da frequência respiratória
·
Sudorese
·
Aumento da pressão arterial
·
Extremidades frias
·
Alteração da distribuição sanguínea cerebral. Áreas responsáveis por
lógica, pensamento criativo, resolução de problemas recebem menos sangue que é
priorizado para regiões que controlam movimento dos músculos, preparando o
corpo para uma resposta de “luta ou fuga”. Pessoas estressadas tem mais
dificuldade para pensar (o que acaba por aumentar o estresse).
·
No campo psicológico, há tendência para exagero, pensamento
catastrófico, diminuição da autoimagem e indecisão.
·
No comportamento, nota-se agitação, deambulação, fala e padrão alimentar
acelerado, gesticulação com mãos quando fala, observação e pontuação da vida
pelo relógio, todos os eventos (mesmo esperar na fila do supermercado) são
vistos como uma competição e impaciência com pessoas mais lentas.
O estresse acontece em pessoas, não em situações
Estudos recentes sugerem que o estresse é desencadeado não tanto pelas
demandas que nos esperam mas pela crença de qua não vamos conseguir desempenhar
as mesmas tão bem quanto gostaríamos. Se pensamos que conseguiremos desempenhar
bem uma determinada tarefa o nível de estresse é baixo. Se pensamos o contrário
e se espera que não lidar com a tarefa adequadamente levará a consequências
desagradáveis, os níveis de estresse são altos. A intensidade da reação de
estresse depende do grau de desequilíbrio entre a demanda e os recursos para
lidar com a tarefa, associados a severidade percebida das consequências da
falha no desempenho.
Todos conhecemos pessoas que estão
passando por problemas difíceis, lidando com eles muito bem, mas sentindo-se
estressadas porque pensam que não estão realizando uma tarefa adequada. Da
mesma forma, todos conhecemos pessoas que estão lidando muito mal com as
demandas da vida, mas pensam que estão a se sair lindamente e sentem pouco
estresse.
Lidando com o estresse
Você e só você cria as pressões de tempo. Se você encara o tempo como um
inimigo, vai senti-lo como sendo arrancado de si e a ansiedade aumenta. A
urgência excessiva é um problema cognitivo. Todos sentimos alguma pressão para
conseguir fazer nossas tarefas. Se, entretanto, você considera tudo em patamares
iguais de urgência, provavelmente sentirá mais estresse. Repense sua visão do
tempo, como se relaciona com ele. Repense tarefas e eventos em uma perspectiva
mais adequada.
Controle suas expectativas
Na raiz do problema está a sensação de que sempre deveria fazer mais. Você
está tentando fazer mais do que é de fato capaz de fazer? Aprenda seus limites
e foque em uma coisa de cada vez.
Aprenda a lidar com suas falhas
Muitos indivíduos com a síndrome da pressa apresentam medo intenso da
rejeição. Tentar agradar a todos contribui para o problema. Nem todos os
compromissos precisam ser encarados com um pensamento “8 ou 80”. Arriscar sua
vida no trânsito por poucos minutos de atraso cria mais problemas do que
soluciona. Chegar no horário é apropriado. Correr o tempo todo é um problema. Pense:
qual a pior e a melhor consequência de cada situação e freie um pouco sua
atitude.
Pratique atividades lentas. Nem tudo tem que ser corrido. Quando falar
com pessoas, ouça mais do que fale. Quando você ouve mais, você diminui o
ritmo. A escuta atenta reduz o estresse.
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