Cerca de 1% das pessoas no mundo sofrem de transtorno bipolar, um transtorno de saúde mental que causa alterações de humor como mania (bipolar tipo I) ou hipomania (uma forma menos intensa de mania, chamado bipolar tipo II) e depressão. A Dra. Vanessa Marsden, psiquiatra, explica um pouco mais sobre o transtorno:
Segundo a dra. Vanessa pessoas com transtorno
bipolar em tratamento adequado, capazes de manejar sua doença (self-care) e
que contam com suporte de família e amigos podem viver vidas plenas e produtivas.
Sem tratamento adequado o transtorno bipolar pode ter um efeito devastador na
vida da pessoa, da família, nos relacionamentos e no trabalho.
Como reconhecer a crise do transtorno afetivo bipolar (TAB)?
A dra. Vanessa explica que como o TAB envolve humor
depressivo ou eufórico (mania), qualquer problema do humor pode anunciar a
recorrência da doença. Em geral a fase maníaca progride de excitação para
hipomania e, se não controlada, pode escalar para mania. O que a família
enxerga primeiro é geralmente a hipomania.
Por dias ou semanas o indivíduo afetado começa a
dormir cada vez menos, parece ter energia ilimitada e está cheio de ideias. De
início a pessoa parece engraçada e agradável mas com a progressão do quadro o
humor se torna irritável ou instável. Pode ser que seu familiar passe a fazer
uso de álcool e ou drogas às escondidas - problemas comuns em pessoas com TAB.
Se seu familiar ou amigo estava em uso de medicamentos para o transtorno ele ou
ela pode ter descontinuado o tratamento.
Sinais de alerta incluem encontrar saques estranhos
no banco e endividamento pessoal. Durante os estados de hipomania/mania a
pessoa não tem julgamento adequado das situações e pode pôr-se em risco: sexo
casual (e desprotegido), jogatina, dirigir em alta velocidade, frequentar
lugares ou pessoas que não são os mais adequados.... Com o tempo e se o TAB não
for tratado a euforia aumenta e a pessoa torna-se incapaz de terminar tarefas.
Os comportamentos tornam-se cada vez mais arriscados para ela e para outros a
seu redor. Não há senso crítico e torna-se inviável argumentar com uma pessoa
que não está mais no controle de si mesma.
O que você pode
fazer?
A primeira coisa a fazer é saber o que não
fazer: não adianta brigar com seu familiar ou amigo. Pode ser a coisa
mais difícil de todas. Uma dica da dra. Vanessa é uma combinação de escuta
e barganha. Tente ouvir e perguntar mas não discutir ou impor.
Barganha diz respeito à vida familiar ser uma via de duas mãos: você
leva mas você também dá. Como familiar, que tipo de suporte você está dando
para o paciente? Um celular, algum dinheiro, um local seguro para ele/a ficar.
Todos são pontos que podem ser usados para negociar o que de fato o paciente
necessita: avaliação e tratamento. Lembre-se: evitar uma briga não é a mesma
coisa de ser desconectado do paciente.
Segundo: não tente resolver
tudo sozinho. Transtornos mentais, são quadros muito comuns e isso quer dizer
que outros - provavelmente na sua família estendida, mas também amigos e
colegas - já trilharam esse caminho. Procure alguém em quem possa confiar e
fale com ele. Pode ser o médico da família, um padre, pastor, alguém que
conheça seu familiar ou amigo por algum tempo. Essa lição serve também para
qualquer doença crônica como diabetes, câncer, Alzheimer e outras. Transtornos
mentais como o TAB não são diferentes.
Terceiro: você precisa entender que
o manejo do TAB é uma maratona e não uma corrida de 100 metros. O envolvimento
familiar deve persistir, perdurar para além de quando o paciente melhora da
crise. A fibra moral da família ou da amizade vai ser testada mas não desista.
O envolvimento do paciente na sua melhora ajuda no prognóstico do quadro. Não
perca a esperança, não desita. Persiga a meta de longo prazo na sua mente e nos
seus esforços.
Recuperação
Recuperação, segundo a dra. Vanessa, diz respeito à vida ter sentido,
propósito, dignidade e relacionamentos saudáveis. É o que todos buscamos e
é possível para pacientes com TAB e muitos outros transtornos mentais.
A Dra. Vanessa Marsden é mestre em Psiquiatria e Saúde Mental pela Universidade do Porto e psiquiatra na Placitude.
No comments:
Post a Comment